Quarta-Feira, 21 de Dezembro de 2022

por Raul Costa

Pigmentos Artísticos e as Cores Sacras 1




Pigmentos Artísticos e as Cores Sacras I

Madonna e a Criança - Jan Van Eyke

Madonna e a Criança - Jan Van Eyke


Você já deve ter visto as pinturas de arte sacra nas igrejas, aquelas pinturas clássicas e bem coloridas. Cenas bíblicas muito bem reproduzidas, o que você talvez não saiba é que as cores são propositais, Isso mesmo! As cores empregadas nas pinturas de arte sacra possuem significado e importância, vou te mostrar algumas delas e alternativas em pigmentos e tintas modernas:


O Vermelho


Representa a criação, a carne, o nascimento e o sangue. Na idade média os reis usavam o vermelho para mostrar que “Deus” havia dado a “dádiva” do governo a Eles... Pode isso?

Utilizaram em seus retratos o vermelho com a mesma intenção - dádiva de Deus – dominar o povo pelo temor.

 

Alguns artistas faziam o uso dessa cor para dramatizar a cena e chamar a atenção para determinado ponto no quadro, como Van Der Wayden na pintura “O Último julgamento”, dando destaque à figura central com imponente manto vermelho.


Detalhe do tríptico de Rogier Van der Wayden – São Miguel – 1445-50


Detalhe do tríptico de Rogier Van der Wayden – São Miguel – 1445-50


Na pintura abaixo - A ascensão da Virgem de Ticiano – O artista formou um triangulo com os apóstolos e a Virgem, são as figuras que mais chamam a atenção do espectador.


A ascensão da Virgem - Ticiano - 1516


A ascensão da Virgem - Ticiano - 1516

 

Como e onde eles conseguiam essas cores?


À história em primeiro lugar...:

 

O vermelho é a primeira cor que as crianças enxergam. Tem uso registrado desde os primórdios nas pinturas das cavernas, para enfeitar os corpos e até espantar espíritos. Dedicada à Deusa do amor no Egito dos faraós – A cor vermelha foi usada como batom naquele tempo.

 

Curiosidades:

Para dar sorte, era colocada em vestidos de noiva pelos asiáticos, nos tempos modernos a sua importância passa pelo tapete vermelho para receber artistas e personalidades da moda, por falar em moda, o estilista Christian Louboutin utilizou a cor “Vermelho Chinês” ou algo próximo dessa, na sola dos sapatos – virou um luxo só.


Pintura Egípcia 18ª dinastia


Pintura Egípcia 18ª dinastia


Vemos a cor vermelha em placas de perigo, faixas de “Não Ultrapasse” e no sinal: PARE!

 

Ocre vermelho e as cores de Marte:

 

O pigmento da cor vermelho-terra já foi chamado de: Vermelho Inglês, Vermelho Veneza, Verona, Pozzuoli, Ocre Vermelho e Vermelho Marte. Nome dado às diferentes tonalidades das lindas terras utilizadas como cor pelos artistas.


Pigmentos de Terras vermelhas e Cores de Marte


Pigmentos de Terras vermelhas e Cores de Marte


Corantes da antiguidade:

 

Era comum o uso do pigmento “Vermilion” – Besouro Kermes na Europa e o besouro Cochonilha nas Américas – insetos amassados. Dá para imaginar?



Esses besouros, das Américas, se tornaram uma grande fonte de renda para os espanhóis, porque era uma cor vermelho vivo que durava muito mais que os Kermes europeus.


Dactylopius Coccus - Cochonilha


Dactylopius Coccus - Cochonilha


A utilização do besouro Cochonilha deu origem ao corante Carmim ou Alizarin Crimson, que mais tarde se tornou sintético e você pode pintar com essa cor maravilhosa. E o melhor?! Não precisa amassar nenhum besouro.


Carmim claro e Alizarin Crimson


Carmim claro e Alizarin Crimson


Outra cor vermelha muito utilizada foi o Rose Madder retirado das raízes de uma planta chamada Rubia Tinctória. A partir desta planta os artistas conseguiram uma cor incrível, porém não era estável a luz.


Madder Carmim


Madder Carmim


Era comum fazer velaturas das lacas carmins sobre os pigmentos Cinábrio e Minium para parar seu escurecimento.

 


Vem aí os Vermelhos mais “Barra Pesada” da história:

 

Cinábrio e Red Lead Mínium


 

O Vermelhão Chinês retirado do mineral Cinábrio – Contém Sulfeto de mercúrio e o Red lead Minium – que se origina da oxidação do chumbo, esses são altamente tóxicos. Pouquíssimos trabalhos possuem a cor vermelha pura, forte e em excesso, porque era muita cara para a época. Além disso, muitas pinturas estão esmaecidas, por conta da fragilidade dos pigmentos de chumbo ao envelhecer.



  


Na Roma antiga os prisioneiros e escravos fazia a mineração do mineral Cinnabar como sentença de morte... Era morte certa!

Afresco Romano – Palácio Massimo – 30 a.C.


Afresco Romano – Palácio Massimo – 30 a.C.


O nome Mínium deriva das pinturas medievais em miniaturas. Muitos artistas faziam as pinturas de toda a história em uma única cena, miniaturizando os personagens.


Pintura miniatura - Século 14


Pintura miniatura - Século 14


Hoje você pode utilizar o Vermelho de Cádmio Claro, um pigmento moderno que reproduz as características do famoso vermelhão chinês. Inventado no começo do século XIX e muito apreciado pelo pintor francês Henry Matisse. Os pigmentos de Cádmio são opacos, ou seja, vão cobrir tudo... Pinta maravilhosamente bem!


Vermelho de Cádmio claro


Vermelho de Cádmio claro


A Fúcsia - Magenta

 

Inventada no final do século XVIII, revolucionou o mundo das cores com uma série de tonalidades e pigmentos modernos chamados Quinacridones. Foi a partir do primeiro corante sintético produzido e, por conta da Flor púrpura Mallow já fora chamado Mauve.


Tinta óleo Artisti Maimeri - Laca Magenta


Tinta óleo Artisti Maimeri - Laca Magenta


Pouco tempo depois que a chamada Fucsina foi descoberta, dois químicos ingleses sintetizaram um corante muito próximo a este, e chegaram ao resultado da cor vermelha-roxeada, após a batalha Franco-Italiana a renomearam Magenta, em homenagem a cidade Italiana.


Paul Gauguin - Portrait of Marie Lagadu 1890


Paul Gauguin - Portrait of Marie Lagadu 1890


75 anos depois, chegaram os Quinacridones, com um abundante espectro de cor. Independente da conotação ou aplicação que você vai usar nas suas artes, com a cor vermelha suas artes vão ganhar status atemporal. Uma dádiva particular!


Fábio Oliveira

Consultor de materiais técnicos

para a Casa do Restaurador