por Raul Costa
Madona sentada – Rafael – 1514-15
As pinturas antigas nos envolvem, somos levados a uma época onde pintar era o “fotografar”, registrar, guardar uma cena para a prosperidade. Continuamos com as cores empregadas nas pinturas de arte sacra, agora com uma cor alegre e que possui um significado muito especial, porém, controverso.
Essa é a cor da Santidade, do Poder e do Ouro. Amarelo é a cor do Eterno, Imperecível e Indestrutível. Evidencia as figuras com o significado do poder do santíssimo.
Detalhe - Virgem - Gerard David 1500 – Amarelo dourado sagrado
Por outro lado, como um sinal de alerta e cuidado, pode representar ser enganado, doença e até inveja, foi a cor utilizada no manto de Judas para indicar sua traição.
Giotto - Beijo de Judas - 1303-05
Amarelo da à sensação de calor, alegria e otimismo. A cor amarela é obtida da terra, minerais, raízes, folhas, flores e casca de árvores.
A cor do pigmento Amarelo Ocre é uma das mais antigas que conhecemos.
Pintura rupestre - Lascaux
Achados em pinturas das cavernas de 17.000 anos. Misturavam-se ceras, óleos e banha nas terras e faziam as pinturas nas paredes e nos corpos.
Ocre mineral verdadeiro
O pigmento mineral foi substituído por sintético em 1920. Você ainda encontra os pigmentos terras verdadeiros em lojas especializadas. O mais comum é o Ocre sintético.
Variedade de pigmentos Ocre
Vamos conhecer a cor amarelo dourado, uma das mais utilizada pelos mestres do passado, com uma periculosidade absurda...
Encontrado em pinturas Egípcias, nos tons amarelos, amarelos-alaranjados e avermelhado.
Sua periculosidade só foi descoberta muito tempo depois. É um sulfeto arsênico... Não chegue muito perto.
Papiro Egípcio – século XIII a.C.
Foi conhecido como Amarelo Estanhado de chumbo na Europa.
Raffaello Sanzio - Capela Sistina - Madonna – 1513-15
Um ícone nos pigmentos artísticos, preparado a partir da urina das vacas, isso mesmo, xixi... As vacas comiam folhas de manga, faziam xixi em potes de barro que eram queimados na fogueira e depois eram formadas bolas de pigmento e secado ao sol.
Pintura indiana – 1600
Era chamado de a “essência das vacas”. O amarelo significa Humildade para o Budismo. Chegou à Europa no século XVII. Incomparável amarelo ouro, mesmo com transparência era admirado pela sua “quase” fluorescência.
Amostra fotográfica – Roberson - 1914
A tinta que reproduz esse amarelo incrível é a Maimeri Puro Giallo Indiano, a cor é pura e não possui mistura de outros pigmentos.
Tinta óleo Italiana Maimeri Puro - Amarelo Indiano
Assim como Vermeer e Turner, Van Gogh foi um dos artistas que mais utilizaram a cor amarelo indiano em suas obras.
Van Gogh - Quinces, lemons, pears and grapes - 1887
Voltamos um pouco no tempo para falar da famosa “cor da pele”… Bom, pelo menos para os Europeus de pele Branca pálida à pele rosada...
Suas cores variam de um avermelhado à cor amarela muito clara. Usada pelos Egípcios desde o século XV e trazida para a cidade Greco-Romana Neápolis. O amarelo sintético mais antigo que conhecemos. Seu nome deriva da cor do monte Vesúvio, por expelir minerais neste tom.
Pigmento Amarelo de Nápoles Genuino
Feito de um composto de Antimoniato de chumbo, devido a isso, também conhecido como Amarelo Antimony. Utilizado para pintura de carnação, com uma cor macia que lembra uma camurça, ganhou mais notoriedade no século XIX com o Impressionismo de Cèzanne, Monet e Renoir. Para Cèzanne, apenas cinco cores eram essenciais à boa pintura, sendo: Negro mais profundo, Siena, Azul de Cobalto, Laca vermelha escura e o Amarelo de Nápoles.
Renoir - Crisântemos - 1881
É uma cor ingrata, por mais que tenha excelente cobertura e boa capacidade de empastamento, não resiste ao envelhecimento e perde sua vivacidade. Esse fator e a sua toxicidade, foram cruciais para o surgimento das cores de Cromo, que a substituíram.
Tintas a óleo com pigmentos puros.
Diferentes pigmentos foram produzidos para substituir cores antigas e tóxicas. Amarelos de Nickel de Titânio; Cromato de Titânio; Cobaltos e Cádmios são exemplos de compostos para produção de amarelos modernos, sem a toxicidade e a fragilidade dos chumbos, para os artistas se expressarem.
Fábio Oliveira
Consultor de materiais técnicos
para a Casa do Restaurador